sábado, 25 de agosto de 2012

Quase 70 - Quase vivi

Daqui a 5 anos quero bater a porta de casa
E levar todas as minhas curtas experiências na bagagem da mente
Sorrindo, olhando pra frente
Acreditando num futuro melhor, vivendo meu presente sem pensar no passado
Sem pensar em tudo o que eu deveria ter passado
E ciente daquilo que já passou
Ciente do que sou, do que posso ser
Criando maturidade para enfrentar os dias reais
E deixando a irrealidade dos meus 18 para trás
Olhando coisas escritas a mão
Rindo das minhas baboseiras, sem perdão
Querendo voltar e dar um toque nesse antigo eu
Gargalhando das coisas que ele faz
Lhe dizendo que amar demais sempre ficará em 5 anos atrás


Daqui a 10 anos quero bater a porta da minha casa
E respirar fundo antes de mais um dia de trabalho
Olhar para o céu, observar o azul que me encanta
Não errar mais um passo sequer nesta dança
Quero acertar em tudo, não errar em nada
Quero viver uma perfeição programada
Quero ouvir cada partícula de racionalidade do meu corpo
E guardar todas as outras de sentimentalismo no bolso
Quero acordar cedo num Domingo e ir almoçar com meus pais
Dando a certeza que os amo muito além de 10 anos atrás
Quero acordar num Sábado e olhar para o lado
Ver um sorriso inocente de uma mulher que me ama
Sem uma pensar mais em uma gota de drama 

Daqui a 20 anos quero trancar a porta da minha casa
Pegar as chaves do carro, jogar para dentro a bagagem
Ouvir o motor dando início a nossa viagem
Olhando pelo retrovisor, vendo meus cabelos grisalhos
Minha face beirando os 40
Enxergando em cada traço algum problema
Alguma preocupação daquela semana estressante
Dando meia volta ao lembrar que esqueci meus calmantes
Você me acalma, diz que vou ficar bem
Te olho e penso se quero casar também
Não sei, não tenho certeza de nada
Só queria poder voltar aos 18
E me trancar no quarto para sofrer na madrugada 


Daqui a 30 anos quero trancar a porta da nossa antiga casa
Colocando as caixas no caminhão de mudança
Tudo ficou pequeno para a antiga vida mansa
Nada mais pertence ao seu lugar
E tentar manter uma ordem, ficou completamente impossível
As dores de cabeça falam por si só
Não sei se anos atrás eu estava melhor
As noites são tão curtas
E os momentos são tão raros
Como ensinar a alguém o que eu nunca gostaria de ter sido ensinado?
Amadureço como homem, como pessoa, como ser humano
Perto de fazer  50, você me ensina tanto apenas com 8 anos
É uma tortura constante, mas seu abraço vale a pena
Vejo o amor que nunca enxerguei nessa sua mãozinha tão pequena


Daqui a 40 anos quero bater a porta da nossa casa
Levando meus bichos de estimação na coleira
Usando como desculpa para sair daquele ambiente
E lembrar dos problemas evidentes
Que eu finjo esquecer, mas sempre lembro
É difícil distinguir o que é verdadeiro
Só lembro do doutor pedindo para eu diminuir os exageros
Sento no sofá, rego minhas plantas , vejo meu programa
Sou tão apático e previsível
Fiquei velho sem perceber
A vida passou tão depressa, mas não me arrependo
Só queria viver um pouquinho mais dos meus 30, pelo menos


Daqui a 50 anos quero não esquecer as chaves da minha casa
Mais uma vez, e ficar do lado de fora, esperando o chaveiro
Trazendo esperança com uma chave nova, para eu entrar naquela velha casa morta
Cheguei no limite da vida e nada me importa
Só uma chave nova para abrir esta minha velha porta
Esta minha velha casa, com minha visão torta
Essas minhas pernas bambas que não me sustentam como deveriam
Sinto raiva de sentir dor em mínimos gestos e movimentos
Sinto raiva de tudo
Me sinto um tanto quanto rabugento
Pessoas novas me irritam, pessoas velhas não me agradam
Cheguei no limite da vida e só quero ficar sentado, agasalhado
Escrevendo mais um futuro livro fracassado
O título eu já sei, se chamará “Quase 70 – Quase vivi”
Chega, já enjoei de vida, quero me aventurar nos caminhos da morte
Não sinto mais vontade de voltar em nenhuma idade
Só desejo acabar o mais rápido possível, com sorte. 

domingo, 5 de agosto de 2012

Escravo

Meu amor é escravo de você
Escravo do seu sorriso, escravo das suas palavras
Escravo do seu rosto ao me ver chegar, da sua expressão lúcida e viva
Sou escravo da sua vida, do seus batimentos cardíacos
Escravo das suas veias, escravo do sangue que te mantém em pé, para me manter em pé
Sou escravo e me maltrato, me rasgo por inteiro, na minha condição de escravidão
Meu amor é escravo de você
Escravo da sua boca, da sua pintura, das suas curvas de mulher
Meu amor é escravo de você
Escravo da sua inocência, da sua mania, da sua confiança de menina
Sou escravo e aceito a minha condição de escravidão
Sou escravo por não merecer
Sou escravo e não me pertenço, não me tenho, só me dou
Me dou para você, para me escravizar nessa condição
Meu amor é escravo de você
Escravo do seu jeito doce e sem querer de me dominar
Escravo da sua forma de acabar comigo
Escravo das poesias que por você eu vivo
Escravo das ilusões que por você eu me mato.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

história de amor (?)

Escrevi uma história de amor sem final feliz
Sem sorrisos, sem beijos de arrepiar, sem lágrimas de alegria
Escrevi uma história de amor onde você não esteve comigo
Onde os vilões foram o tempo e o universo
Escrevi uma história de amor onde eu era um poeta
E escrevia um milhão de textos e poesias para você
Minha inspiração, minha deusa
Escrevi uma história de amor onde não existiam diálogos
Apenas olhares, onde você era minha, e eu era seu
Só nesses olhares, distantes, você era minha
Olhares enfraquecidos, mas sempre cheios de amor
Escrevi uma história de amor onde você terminou nos braços dele
E a dor que se propagou nesse personagem principal, eu escrevi nos meus piores dias
E agora, depois de ter dito tudo o que poderia
Depois de te abraçar com todo o amor que você nunca mais irá ser abraçada
Esse personagem se joga naquele mar de sofrimento
Onde a sua única dor
É o seu próprio Amor.